Vamos falar sobre ansiedade?
Imagine a cena, você, em sua casa, feliz e contente, ainda não são nove horas da noite quando, , então, recebe uma ligação da sua mãe em seu celular. Levando-se em consideração que sua mãe tem saúde de ferro, talvez até bem melhor que a sua, você: 1 – atende ao telefone e diz “oi mãe, que bom falar com você hoje novamente”; ou 2 – num pulo, começa a sentir o coração bater dentro da garganta, as pernas bambeiam, a mão tremula, o suor gelado escorre pela espinha e a primeira frase que lhe vem a cabeça é: – “mãe, o que aconteceu?”
Parece exagero né? Mas, infelizmente, não é. Cenas como esta podem ser corriqueiras e pertinentes para quem sofre do chamado “transtorno de ansiedade”, mal que hoje acomete 9,3% da população brasileira ( na região metropolitana de São Paulo essa taxa sobre para 19,9% e no mundo cai para 3,1%), . Segundo a Organização Mundial de Saúde dentre os transtornos mentais o da ansiedade é hoje o mais frequente, o que, de cara, nos faz crer que precisamos mesmo falar sobre este assunto.
Eu sei, a ansiedade faz parte da vida. Existe desde que o mundo é mundo e pode até, em algumas situações ser prazerosa e, até mesmo, necessária. Mas voltamos ao exemplo acima, se o seu telefone tocar, às três horas da manhã, será bem provável que todos os sintomas, ou alguns deles, vão disparar em seu corpo também. (Não consigo imaginar nenhum ser humano na face desta terra que se o telefone tocar às três da manhã a criatura vai virar para o lado e deixar pra ver quem é quando amanhecer). Aí que está a diferença: existe uma ansiedade normal, necessária, natural e a outra, exagerada, exacerbada, descontrolada e perturbadora que acomete milhões de pessoas no mundo e, na qual, me enquadro.
Essa sensação, incontrolável, de que algo vai dar errado, a qualquer instante, e que uma tragédia real está sempre preste a acontecer pode ser mais comum do que se imagina. O pior – se é que ainda pode ser pior – é que, muitas vezes, são tratadas e vistas por familiares e amigos como uma simples frescura ou infantilidade chegando mesmo a convencer o próprio acometido, que neste caso vai continuar sofrendo, que aquilo não passa mesmo de uma imbecilidade da sua cabeça.
A primeira vez senti um desespero assim foi há mais de 15 anos. Desde então passei um tempo peregrinando de médico em médico (isso também faz parte da saga de pessoas ansiosas e caberia em outro texto enorme) tentando entender essa tal “frescura” Depois de muita busca, de um sem número de consultas e muita persistência,finalmente enxerguei uma luz no fim do túnel e comecei a descobrir o que realmente estava sentindo. De lá para cá, muitas coisas se passaram. Muita coisa mudou. A medicina vem evoluindo, as pessoas começaram a entender melhor a doença, surgiram inúmeras biografias sobre o tema, textos, pesquisas que hoje muito auxiliam quem passa por isso. Com o tratamento minha vida começou a voltar ao normal, ou quase isso.
Nesse tempo, já deixei carrinho de compra cheio no meio do supermercado, já levantei e fui embora de restaurante bem na hora em que a comida chegou à mesa, já voltei pra conferir mil vezes a mesma tranca da porta ou o gás do fogão, já achei que estava enfartando e melhorei só de chegar ao hospital. Mas descobri que tudo isso faz parte do processo e tento levar com humor e leveza essas situações.
Estes são somente alguns pequenos casos do meu dia a dia que gostaria de compartilhar com vocês!
Meu nome é Larissa, sou economista e ansiosa nas horas vagas. Não tenho formação na área de saúde e sou apenas uma paciente que fala abertamente para tentar desmistificar e democratizar um assunto polêmico e sério em qual devemos prestar mais atenção para termos uma vida mais saudável e de feliz.
Abraços,
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